terça-feira, 23 de junho de 2015

A liberdade não é um pedaço de pão


Paulo de Siqueira era autodidata e com 16 anos realizou sua primeira exposição em Passo Fundo, onde passou a infância e adolescência. Em 1972 ele passa a viver em Chapecó e de maneira muito efetiva participa do desenvolvimento cultural da cidade, sendo, inclusive, um dos fundadores do Grupo Chap, primeiro grupo artístico de Chapecó reconhecido estadualmente.  
Entre idas e vindas, o artista viajava muito para produzir seus monumentos, chegava a ficar meses na elaboração de uma escultura, Paulo de Siqueira estabeleceu uma relação intensa com Chapecó, sua história e futuro. Nesta cidade ele deixou suas marcas também nos monumentos: Índio Condá, O Soldado, Novas Metas, Padre Champagnat, Ilizarov.
As esculturas são de chapas de ferro e aço inoxidável, cortadas e soldadas, a maioria oriunda da sucata. Era no lixo, no ferro velho que Paulo encontrava os elementos para compor sua obra. Sua genialidade na construção dos monumentos chamou a atenção de outros artistas e críticos de arte, embora não participasse de Salões de Artistas e priorizasse mais as exposições individuais, Paulo foi destaque no sul do Brasil. Na época ele foi considerado uma revelação em escultura, especialmente por utilizar material de sucata, o que era polêmico na década de 80. O material é corrosivo e as ideias de reciclagem ainda estavam distantes da sociedade brasileira.
"Dom Quixote das Artes" pretende documentar a história de vida desse personagem tão marcante e talentoso, um artista intenso, apaixonado pela natureza, irreverente, fascinado pela liberdade, desprendido do capital. “A liberdade não é um pedaço de pão”, dizia Dom Quixote, o seu “eu literário”. Paulo costumava dizer que a escultura é o trabalho mais espontâneo dentro da arte¸ “é um desenho no espaço”. Muitas das suas obras eram suspensas, quase todas se apoiando num só pé e geralmente com as mãos levantadas, numa posição de salto, de vôo. Foi ao ar livre que o artista encontrou o espaço que necessitava para os desenhos que não cabiam mais no papel. Os sentimentos extravasavam e faziam de suas obras uma extensão do ser Paulo de Siqueira, o “Dom Quixote das Artes”.



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